11 Mar Doces & Embaixadores
Não é comum entrarmos num sítio para tomar um café e sair a saber mais sobre uma tradição de Portugal, mas é isso mesmo que acontece a quem entra na Casa dos Ovos Moles, que abriu recentemente na Calçada da Estrela, em Lisboa e que assenta a sua imagem de marca na história da identidade dos produtos que vende.
Doces feitos a partir de receitas que, em alguns casos, existem há 500 anos distinguem-se de todos os outros vendidos nos cafés das redondezas, atraindo a curiosidade de quem ali passa e acaba por descobrir também nas montras a tradicional loiça Bordalo Pinheiro, das Caldas da Rainha.
A fórmula já tinha sido testada no mercado de Campo de Ourique, de onde é também possível trazer uma caixa da irresistível doçaria conventual, acompanhada pela respetiva história que conta como os ovos moles de Aveiro começaram a ser embrulhados em hóstia, a ganhar formas ligadas ao mar ou a ser embalados em barricas de madeira pintadas.
Doces feitos a partir de receitas que, em alguns casos, existem há 500 anos distinguem-se de todos os outros vendidos nos cafés das redondezas, atraindo a curiosidade de quem ali passa
Filipa Cordeiro, uma das sócias, conta que o que ali se vende são também segredos de outros tempos: “Quando as freiras entravam nos conventos, tinham de prometer sigilo, pelo que as receitas foram passando de poucas em poucas mãos e ainda hoje são feitas artesanalmente por pequenos produtores em pequenas cozinhas onde há dias que são passados a separar as gemas das claras”. A título de curiosidade, os próprios doces começaram com esta divisão: “nos conventos usavam as claras para engomar os hábitos e por isso as receitas nasceram para aproveitar as gemas. Cada convento começou a testar fórmulas com os seus produtos autóctones — uns juntavam amêndoa, outros gila –, e assim foram nascendo as diferentes receitas que ainda se comem hoje em dia.”
Uma marca que quer ser também uma embaixada de Portugal e que, para isso, não prescinde da(s) nossa(s) história(s).