Pelo futuro que é já agora

Pelo futuro que é já agora

Após anos sem ir a NYC aterrei em Times Square ao princípio da noite. Diversos ecrãs passavam Otello em directo da Met Opera. Pelo meio trânsito, obras, cadeiras com gente sentada, bancadas repletas, carros a apitar, camiões a passar,autocarros de turismo e luzes e ainda mais ecrãs a piscar em grande velocidade.
Para mim era bem mais tarde, pela diferença horária. Se calhar a sensação de vertigem que tive foi apenas causada por jet lag, ou pela altura dos prédios. Mas é bem capaz de ter sido bem mais do que isso. Não pude deixar de alucinar com a quantidade de turistas e câmaras, e selfie sticks.
Selfie sticks por todo o lado, essa invenção engenhosa que torna os turistas independentes do outro e das interacções com os mundos que supostamente vão visitar.
Gente que se fotografava sem ver os outros a fotografar os que se fotografavam e filmavam no meio de todos aqueles ecrãs e mensagem que passavam em contínuo. A globalização do turismo e a multiplicação das imagens e dos estímulos ali estava em versão estonteante. Aterradora e fabulosa caricatura do tempo onde nos encontramos.
As colunas tocavam a ópera com toda a sua sonoridade. Ouvia-se Otello, lembram-se?
E algumas pessoas ainda conseguiam concentrar-se.
Confesso que também não consegui.